O que é, como surgiu e como pode evoluir a Gripe Aviária?

Nuno Santos – Médico Veterinário (03-11-2005)
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A Gripe Aviária adquiriu recentemente o estatuto de ameaça global mediatizada. Mas o que é e como pode evoluir esta doença? Apresentamos uma revisão do problema, escrita pelo médico veterinário Nuno Santos que trabalha com fauna silvestre.

Para melhor compreender a gripe aviária é necessário conhecer as características do vírus que a provoca, bem como a complexa epidemiologia desta doença.

O vírus da gripe é de estrutura simples, constituído por oito segmentos de ARN envolvidos por uma camada lipídica, onde se encontram dez tipos diferentes de proteínas. Duas destas proteínas, são particularmente importantes a hemaglutinina (H) e a neuraminidase (N). A primeira permite a invasão das células pelo vírus, enquanto a segunda está envolvida na libertação dos vírus recém-formados a partir das células infectadas. Em conjunto, determinam as espécies susceptíveis e a eficácia do contágio.

Após infectar um ser vivo, o vírus da gripe entra nas células-alvo, geralmente as das vias respiratórias nos mamíferos, e as dos intestinos nas aves. Uma vez dentro da célula, utiliza as estruturas celulares para se replicar, sendo os novos vírus libertados para infectar outras células.

Este vírus é dividido nos tipos A, B e C, dos quais apenas o primeiro é compartilhado por seres humanos e animais. Os vírus da gripe de tipo A podem ser classificados segundo as suas proteínas de superfície. Existem 9 subtipos de N e 16 subtipos de H, dos quais o último foi descrito em 2005, a partir de vírus isolados em Guincho (Larus ridibundus). O subtipo mais comum da vulgar gripe de Inverno, em seres humanos, é actualmente o H3N2.

O vírus da gripe tem uma alta variabilidade, mesmo dentro de cada subtipo. Esta variabilidade advém da sua alta taxa de mutação, mas também da capacidade de recombinação, isto é, de haver troca de material genético entre 2 subtipos diferentes de vírus, quando ambos infectam a mesma célula, dando origem a novos vírus com segmentos genéticos de ambos os vírus “progenitores”.

Cada subtipo de vírus da gripe está adaptado a uma espécie, sendo a transmissão interespecífica tanto mais rara quanto mais distantes, em termos evolutivos, estão as espécies.

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