O padre Himalaya apresenta uma proposta para a nova bandeira nacional, de cores vermelha e verde, onde o emblema assenta sobre “um sol radiante com quatro feixes de raios alongados, de forma a se assemelharem à cruz de Cristo”, a qual deverá exprimir simbolicamente a expansão da nacionalidade. A sua sugestão para a criação da nova moeda portuguesa, dividida em parcelas decimais de um tostão, apresentada a 20 de Julho de 1909, é aceite pela República através da implantação do escudo.
A este envolvimento do padre Himalaya na vida social e política corresponde uma crise na Companhia Himalayite, onde se instala um clima de suspeição, que levará a um processo jurídico arrastado durante anos. Enquanto isto, ele vai utilizando os explosivos para trabalhos camarários. Realiza experiências em 1912, em Braga, na pedreira de Guadalupe, e em Viana do Castelo, na pedreira de Crúzios, sendo sempre acompanhado por uma senhora americana, Adelaide Heaton, mãe de um importante homem de negócios americano.
Quando regressa de Viana do Castelo para Lisboa regista nova patente, em 25 de Setembro de 1911, desta vez de “Um motor directo”. Torna-se sócio fundador da Sociedade de Chímica Portuguesa, em Janeiro de 1912. Entre finais de 1912 e princípios de 1913 existem fortes probabilidades do padre Himalya se ter deslocado aos E.U.A., a convite do filho da senhora Heaton. Jacinto Rodrigues não conseguiu determinar se tal assim se passou. Sabe-se apenas que se ausentou durante vários meses das assembleias da Academia de Sciências de Portugal.
Nesta altura, eram já do conhecimento público as experiências realizadas na América para fazer chuva artificial, assim como o descrédito em que tais teorias tinham caído. No Verão de 1913 uma seca enorme afligia o país, sendo o Alentejo a região mais afectada. O padre Himalaya apresenta, em Julho desse ano, uma comunicação sobre o processo de fazer chover, afirmando que o seu método é diferente do americano, baseando-se numa acção conjugada vertical e horizontal sobre um prisma de ar provocado pelo tiro sincronizado de vários canhões. Pouco tempo depois, a comissão encarregue do estudo desta proposta desloca-se com o padre Himalaya à Serra da Estrela, onde se procedeu à experiência. Houve gente que afirmou terem caído umas gotas de chuva nesse dia quente de Verão! Mas o método foi abandonado por ser demasiado caro, tendo os anos seguintes sido mais pluviosos.
É durante este ano que o padre Himalaya se dedica à divulgação do uso dos explosivos na agricultura. Percorre as diversas províncias de Portugal, desenvolvendo várias actividades junto dos agricultores. A campanha “Contribuamos para a urgente arborização do País”, culminou de forma simbólica na Festa da Árvore, realizada no Jardim Zoológico de Lisboa, onde, após a abertura de buracos através da colocação de explosivos pelo padre Himalaya, se procedeu à plantação de arbustos e árvores pequenas.
Em Setembro de 1914 o padre Himalaya, continuando na prossecução dos seus interesses geológicos, e acompanhado de Paul Choffat, geólogo que se pronunciara junto com o padre sobre o terramoto do Ribatejo, percorrem a região de Rio Maior, em particular a Serra da Marinha, em busca de carvão mineral e de manganês. Torna-se também director técnico da “Empresa de Adubos Nacionais, Lda.”, fábrica de adubos químicos criada em Rio Maior.
Em 13 de Fevereiro de 1915, em colaboração com o professor Castro Neves, director de ”O Século Agrícola” e Albino Aires de Carvalho, regista a patente do “Processo e aparelho de fabrico de adubos completos dotados de acção catalítica”. Nesta é descrito o processo e o aparelho para efectuar o aproveitamento de esgotos e a elaboração de adubos. Se esta estrutura fosse adaptada à rede urbana permitiria algo semelhante às estações de tratamento de águas residuais, com o consequente aproveitamento dos nutrientes para a fertilização agrícola. Estes detritos orgânicos, enriquecidos com adubos catalíticos, formavam uma compostagem que beneficiava os solos. Como afirma Jacinto Rodrigues, mais uma vez se constata aqui o pioneirismo do padre, inserindo nas suas preocupações de agricultura biológica, que vinha explicitando, a importância que dava à agricultura, estabelecendo a inter-relação na defesa de animais úteis à agricultura, no uso de plantas como a luzerna, as opúncias e a “Prosopis”, como um processo de enriquecimento dos solos. Nesta altura, a Companhia Himalayite, com os explosivos orientados para a agricultura, chuva e exploração mineira, proporcionava ao padre Himalaya o orgulho de participar no desenvolvimento do país. A 1ª Guerra Mundial alteraria esta estratégia pacífica do uso dos explosivos.
A 30 de Maio de 1915, o padre Himalya realiza as primeiras experiências concretas com o motor directo de que registara a patente em 1911. Este motor funcionava a gás pobre, como o metano ou o gasogénio proveniente dos carburetos. Nesta fase ele continua a viver na quinta da Caldeira, junto ao rio Coina, dedicando-se também aos métodos dietéticos, à botânica e à agricultura. Dá longos passeios à serra da Arrábida, onde apanha plantas medicinais e insectos raros. Constrói uma viatura a gás pobre e sonha com o aproveitamento da energia das marés.
Com a entrada de Portugal na guerra é criada a Comissão de Inventos de Guerra, da qual o padre Himalaya fará parte. Supõe-se que foi encarregue de desenvolver e melhorar os canhões que utilizava no processo de fazer chuva. Enquanto isso, dedica-se ao projecto do turbo-motor, que patenteia a 22 de Março de 1916. Este é um motor reversível com capacidade para multi-usos, que pretendia utilizar como um substituto dos rodízios dos moinhos das marés e fazer o aproveitamento da energia.
O golpe de Estado de 5 de Dezembro de 1917 leva à tomada de posse de um novo presidente: Sidónio Pais. Um dos companheiros de Himalaya da Academia de Sciências de Portugal, passa a ocupar um lugar de destaque na Câmara Municipal de Lisboa. Apoia as causas sociais defendidas pelo padre. Este é nomeado Secretário da Comissão Hidrológica da Câmara de Lisboa, passando a percorrer a bacia hidrográfica do rio Tejo, de forma a determinar os locais mais favoráveis para a construção de barragens. Viaja também às colónias Portuguesas em África.
Após o assassinato de Sidónio Pais, em 14 de Dezembro de 1919, o padre Himalaya apoia a estratégia de compromisso entre a esquerda e a direita, personificada pelo governo de José Relvas, no sentido de evitar uma guerra civil. Passa a escrever no jornal conservador “A Época”, mas com preocupações técnicas e científicas. Continua a advogar o urgente aproveitamento da energia motora das águas e a regularização dos rios, através da implantação de estruturas hidráulicas de grande e médio porte. Aponta como rios mais aptos o Douro e o Tejo e em segundo plano o Zêzere e outros pequenos rios, como o Lima e o Homem.