Reproduzir para Preservar – Conservação de Espécies Piscícolas Ameaçadas

Carla Sousa Santos – Centro de Biociências, ISPA
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No que se refere à destruição de habitats, ela não se limita à remoção de inertes ou à captação de águas para regas mesmo nos períodos de seca: muitas acções de regularização de leitos mal projectadas levam com frequência à destruição das margens e da vegetação marginal e circundante, diminuindo radicalmente o ensombramento e fazendo desaparecer locais de desova, refúgios para alevins e até muitos pêgos onde os adultos se refugiavam no Verão. Isto significa que durante as secas estivais existem cada vez menos reservas de água com zonas de ensombramento que permitam aos peixes sobreviver à seca.

Até agora, a falta de medidas de protecção para estas espécies endémicas deveu-se provavelmente a vários factores, a começar pelo desconhecimento da sua presença, mesmo entre técnicos e investigadores, até uma época muito recente. Por outro lado, trata-se em geral de peixes sem interesse para a pesca, de pequenas dimensões e difíceis de distinguir, o que contribui para que as próprias comunidades locais não se apercebam do valor incalculável do património biológico dos seus rios.

Figura 5 - Escalo do Mira (Squalius torgalensis), espécie com estatuto de conservação “Criticamente Ameaçada”.

(Autoria: Carla Sousa Santos)

O futuro pode, no entanto, ser bem diferente: a recuperação destas populações endémicas é exequível com custos relativamente baixos e programas de acção simples. Ao serem mantidos em cativeiro, stocks das espécies criticamente ameaçadas serviriam de salvaguarda para a eventualidade de extinção das populações naturais e de base à produção de um grande número de repovoadores que seriam reintroduzidos na bacia de origem assim que os respectivos habitats estiverem adequadamente restaurados. Com a manutenção de stocks em cativeiro ter-se-ia, portanto, sem grandes custos, um período de segurança de alguns anos que permitiria elaborar um plano gradual de restauração dos cursos de água que se podia ir executando à medida que os recursos para o fazer se fossem tornando disponíveis.

Muitas ribeiras onde hoje existem espécies em risco iminente são relativamente fáceis de recuperar: a eliminação dos focos de poluição combinada com uma política de recuperação da vegetação das margens, de modo a melhorar o ensombramento e os habitats de desova e criação, e com o aprofundamento de pêgos que sirvam de refúgios estivais, podem ser medidas suficientes para que em poucos anos muitas das nossas ribeiras se possam tornar plenamente saudáveis, exemplos de preservação do património biológico e locais de convívio e recreio para as populações.


 Para mais informação:

. Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (2005). www.icnb.pt
. Projecto de conservação ex situ de organismos fluviais - www.peixesdeportugal.com
. Carta piscícola nacional – www.fluviatilis.com/dgf/?nologin=true
. Centro de Biociências – www.ispa.pt/centrodebiociencias

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