O visão-americano, o lagostim-vermelho-americano e a fauna nativa - Um dilema de conservação no Noroeste de Portugal

Filipa Alves
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Minho, uma análise a grande-escala

Apesar de se saber da ocorrência do visão-americano em território português há mais de duas décadas, até ao início deste projecto a sua área de distribuição no país permanecia por determinar. “Sabíamos que estava presente no Minho, mas não sabíamos se era muito abundante ou não, se estava disperso ou não”, revela Diana Rodrigues. Deste modo, a primeira fase do projecto, que começou em 2009, consistiu no mapeamento da sua presença desde o rio Minho até ao rio Douro.

Sendo o visão uma espécie com afinidade pela água, esse trabalho envolveu a colocação, nos principais rios do Minho, de umas jangadas especiais desenvolvidas por um biólogo inglês para o estudo desta espécie. Essas plataformas flutuantes, que são “presas à margem, têm uma base com um buraco onde está preso um cesto com barro e com uma esponja por baixo, de forma a manter o barro mais ou menos húmido”, explica a bolseira. “Como são muito curiosos, os visões sobem para as jangadas e deixam as suas pegadas impressas no barro”. Por vezes, os animais “acabam por usá-las como locais de marcação territorial, deixando dejectos”. Para além disso, foram realizados percursos ao longo dos rios e recolhidos outros excrementos, que poderiam pertencer a esta espécie, à lontra ou ao toirão.

 

Fig. 2 - Jangada usada no projecto

 

Os dejectos recolhidos foram depois alvo de uma análise genética em laboratório. “Fez-se um teste de ADN mitocondrial, ou vários, para saber a que espécie pertencia”, explica Luciana Simões, bolseira do projecto responsável pelas análises genéticas.

A maior parte dos dejectos recolhidos era de lontra, o que confirma dados anteriores de que a espécie está distribuída por todo o Minho e é bastante abundante. Por seu lado, o mapeamento das pegadas e dos dejectos de visão revelou que, embora menos abundante, este carnívoro também está disperso pelo Noroeste de Portugal, embora ausente nas áreas de maior altitude. Com efeito, embora no primeiro ano do estudo se tivesse verificado que a espécie apenas ocorria nos rios Minho, Lima, Neiva e Cávado, passados dois anos já estava presente mais a Sul, nos rios Ave e Sousa, o primeiro afluente do Douro, revela Diana Rodrigues.

 

Fig. 3 - Pegada de visão-americano no barro

 

Esta evolução indica que a espécie está a expandir a sua área de distribuição para Sul. Por outro lado, e ao contrário do que aconteceu com a lontra e o visão-americano, praticamente não foram encontrados dejectos de toirão: “Dos 431 dejectos apanhados por todo o Minho só quatro eram de toirão”, refere a bolseira.

A presença do lagostim vermelho americano no Noroeste de Portugal também foi investigada neste estudo. A ocorrência do crustáceo foi detectada nos mesmos rios onde se fez amostragem de carnívoros, ainda que em abundâncias significativamente mais baixas do que no Sul do território nacional, região que esta espécie, também invasora, colonizou primeiro.

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