Análise de estruturação populacional numa escala local de organismos marinhos com elevadas capacidades de dispersão (Delphinus delphis; Tursiops truncatus), através de uma abordagem multilocus

André Moura – CIBIO, Universidade do Porto
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O facto da costa portuguesa se situar num gradiente ambiental e de alguns dos delfinídeos que aqui ocorrem possuírem elevada diversidade genética, tornam-na ideal para o estudo da especiação de organismos marinhos com elevada capacidade de dispersão.

Introdução

Em biologia evolutiva, poucos assuntos têm despertado tanta controvérsia como a especiação, ou seja o mecanismo que promove a origem de novas espécies. Existe actualmente um consenso geral em que para haver especiação, o fluxo genético entre duas populações terá que ser impedido por uma barreira externa, para que estas possam então tomar percursos evolutivos distintos. Esta barreira pode ser um obstáculo físico à dispersão ou uma mancha de habitat desfavorável na qual o organismo tem menor probabilidade de sobrevivência. Este mecanismo de especiação é conhecido como alopátrico (Futuyma, 1998). Em alternativa, vários autores têm proposto modelos de especiação que não exigem a existência de uma barreira externa que impeça o fluxo genético entre duas populações, chamados de mecanismos simpátricos (Via, 2001; Schluter, 2001). Apesar de serem possíveis em teoria, existem ainda poucos casos bem estudados na natureza (Schluter, 2001).

Muitos organismos marinhos têm grandes capacidades de dispersão e distribuições geográficas extensas, o que torna bastante difícil o aparecimento de barreiras externas à sua dispersão (Palumbi, 1994; Jackson e Cheetham, 1999). Os cetáceos são, neste sentido, bons modelos de estudo. Dentro dos cetáceos, os golfinhos (família Delphinidae) são o grupo mais diversificado com cerca de 35 espécies diferentes, extremamente variáveis em tamanho (desde o género Cephalorhynchus cujo tamanho ronda os 1,5 m de comprimento até à orca que pode atingir os 9 m) e ocupando tanto regiões polares como tropicais (Folkens et al., 2002; Hoelzel, 2002). Este grupo originou-se a partir de um ancestral comum há cerca de 10 milhões de anos, tendo a sua diversificação sido bastante rápida, o que torna bastante difícil determinar com exactidão as relações filogenéticas dentro do mesmo (LeDuc et al., 1999). Como tal, apesar de serem animais pouco sensíveis a mecanismos de especiação alopátrica, têm sido bastante prolíficos na origem de novas espécies. Como tal, os delfinídeos podem ajudar a perceber se os mecanismos de especiação simpátrica existem e como actuam na natureza.

 

Espécies de Estudo (Delphinus delphis e Tursiops truncatus)

O golfinho-comum (Delphinus delphis) e o roaz-corvineiro (Tursiops truncatus) são espécies filogeneticamente próximas (LeDuc et al., 1999), e que apresentam características importantes para este estudo. Ambos têm distribuições geográficas amplas (Figura 1 e 2), pelo que conseguem sobreviver numa grande variedade de ambientes. Ao contrário do que seria de esperar numa espécie com grandes capacidades de dispersão, têm uma elevada variabilidade morfológica e genética ao longo da sua distribuição.

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