Biodiversidade e funcionamento dos ecossistemas

Maria da Conceição Caldeira e Miguel Bugalho
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Estas hipóteses tem sido debatidas sobretudo no plano teórico. Até à data foram poucos os estudos experimentais conduzidos com o objectivo de aferir a existência de relações entre a diversidade de espécies e o funcionamento dos ecossistemas. Recentemente, um grupo de cientistas portugueses (sob coordenação do Departamento de Engenharia Florestal do Instituto Superior de Agronomia) e de mais sete países europeus (Alemanha, França, Grécia, Irlanda Reino Unido, Suécia e Suiça), pôs em prática uma experiência inovadora - o projecto BIODEPTH (Biodiversity and Ecological Processes in Terrestrial Herbaceous Ecosystems) com o objectivo de verificar qual a relação entre o número de espécies de plantas e processos ecológicos em comunidades de plantas. Seguindo um protocolo comum, em cada país foram semeadas parcelas com 5 níveis de riqueza em espécies de plantas herbáceas (parcelas com 1, 2, 4, 8 e 14 espécies). Posteriormente foram medidos periodicamente vários parâmetros entre os quais, por exemplo, a produtividade, eficiência de uso de água pelas plantas, decomposição da matéria orgânica, que foram relacionados com o número de espécies semeadas. A participação, nesta abordagem experimental, de países com climas tão diferentes como a Suécia ou Portugal, permitiu medir os efeitos do número de espécies sob condições climatéricas distintas. Um dos resultados mais interessante deste estudo, recentemente publicado pela equipa de investigação na revista Science (Science, vol. 286, pp 1123-1127, ano de 1999), foi ter-se verificado que a produtividade, medida pela acumulação de biomassa vegetal, diminuiu com a redução do número de espécies semeado. Verificou-se ainda que a redução do número de espécies dentro de cada grupo funcional (leguminosas por exemplo), provocou também decréscimos de produtividade. Este estudo sugere que espécies vegetais diferentes possam estar a utilizar recursos (nutrientes, água, luz) de modo diferente e até complementar. Nesta situação haverá uma melhor utilização de recursos, o que pode originar níveis de produtividade mais elevados. Neste exemplo estaria portanto a ocorrer um efeito positivo do número de espécies na produtividade do ecossistema.



Abordagens experimentais como a adoptada neste estudo pioneiro permitem quantificar os efeitos da diversidade biológica. A extensão deste tipo de abordagem a outros organismos, que não apenas plantas, é provavelmente possível e poderá desvendar outro tipo de relações importantes que se estabelecem entre os níveis de diversidade biológica e o funcionamento dos ecossistemas.

Para além de argumentos de natureza utilitária, filosófica, ética ou simbólica, a conservação da diversidade biológica urge pelo papel que esta pode desempenhar na manutenção e funcionamento dos ecossistemas e que começa a ser agora demonstrada pela investigação científica.

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