Remoção de bolota recém-caída pela comunidade faunística dos montados da Herdade da Ribeira Abaixo, Grândola – resultados num ano de escassez

Rui Rebelo, Rui Rodrigues e Ana Filipa Alves – Centro de Biologia Ambiental, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
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Apenas em 10% dos casos (ainda assim, para cerca de 400 bolotas) foi possível identificar o agente de remoção, dos quais 6% correspondem a remoções por roedores e 4% por ungulados (javali ou ovelha).


Área não vedada e desmatada, localizada numa úmbria.



A remoção de bolotas de sobreiro e azinheira por ungulados ocorreu maioritariamente nas vertentes viradas a sul, o mesmo se verificando para a remoção por roedores, neste caso para as bolotas de todas as espécies (Fig.2).

Esta remoção preferencial de bolotas em vertentes viradas a sul poderá ser o reflexo de uma selecção de zonas com temperaturas mais elevadas - no Outono-Inverno, pico de disponibilidade de bolota, as temperaturas podem atingir valores negativos nas úmbrias, não só durante a noite mas mesmo durante o dia. Por outro lado, a preferência dos ungulados poderá também estar relacionada com a diferente composição do estrato herbáceo em úmbrias e soalheiras. Há pouca regeneração natural nas soalheiras da Serra de Grândola, para o qual poderá contribuir a remoção mais intensa de bolota nestas encostas.


Fig. 2– Influência da orientação da encosta na taxa de remoção de bolota das diferentes espécies de Quercus por ungulados e roedores



Os resultados indicaram que, apesar da área de estudo apresentar baixas densidades de ungulados domésticos e silvestres, os níveis de remoção de bolota foram bastantes elevados, independentemente da espécie de Quercus considerada ou das condições ambientais envolventes, o que poderá ser consequência da escassez de bolota que se comprovou ter ocorrido na época de frutificação em que decorreu a experiência (Alves et al., dados não publicados).

No entanto, de entre os potenciais agentes de remoção de bolota presentes na área de estudo, apenas se confirmou o impacto dos micromamíferos e dos ungulados, deixando de parte um animal que é apontado como principal agente dispersor deste tipo de fruto – o gaio (Garrulus glandarius). A ausência de vestígios da remoção por parte desta e outras aves poderá ficar a dever-se ao facto de estes animais não se alimentarem no solo, preferindo levar a bolota até ao topo de uma árvore (obs. pess.).

Apesar da baixa pressão de predação por ungulados silvestres e domésticos, a taxa de remoção de bolota à superfície foi sempre muito elevada, mesmo em áreas onde o acesso de ungulados foi vedado. Pode assim ser determinante o papel dos dispersores de bolota que a enterram no solo, como é o caso do gaio (e talvez do rato-do-campo, Apodemus sylvaticus). A importância do enterramento das bolotas não só na prevenção da remoção mas também da promoção da germinação já foi comprovada por Gómez (2004), e os nossos próprios dados preliminares sugerem que a remoção de bolota enterrada é muito inferior à remoção de bolota deixada à superfície.


Referências

GÓMEZ, J.M. (2004). Importance of microhabitat and acorn burial on Quercus ilex early recruitment: non-additive effects on multiple demographic processes. Plant Ecology, 172(2): 287 – 297.

HERRERA, J, (1995). Acorn predation and seedling production in alow density population of cork-oak (Quercus suber L.) Forest Ecology and Management, 76: 197-201.

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