Conservação dos répteis no Noroeste de Portugal

José Carlos Brito
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- Urbanizações e Infra-estruturas Turísticas indiscriminadas – a construção desregrada tem impactos elevados nos habitat naturais. Para além de os reduzir, fragmentar e poluir, aumenta a predação provocada pelas espécies associadas ao Homem, tais como ratos, gatos e cães. Um aspecto específico dos riscos das urbanizações são as regularizações das margens das linhas de água (Fig. 3), que acabam por destruí-las, diminuindo ou eliminando as populações de répteis mais ligadas aos meios aquáticos.


Figura 3 - Regularização do rio Vez, em Arcos de Valdevez.


- Construção de Barragens de Grandes Dimensões – as barragens de grandes dimensões submergem vastas áreas, afectando não só as populações de répteis, mas também todas as espécies com reduzidas capacidades de dispersão, como anfíbios e micro-mamíferos. Além disso, em muitas destas barragens não é respeitado o caudal mínimo (Fig. 4) necessário à manutenção dos vários processos ecológicos, o que acaba por eliminar todas as espécies mais dependentes da água, tais como peixes, anfíbios e muito répteis aquáticos e ripícolas, como a Cobra-de-água-viperina, a Cobra-de-água-de-colar e o Lagarto-de-água.


Figura 4 - Açude que não respeita o caudal mínimo ecológico no Porto da Lage (Serra do Gerês).


- Abandono dos Campos e Práticas Agrícolas Tradicionais – Com o êxodo dos habitantes das regiões do interior de Portugal para as zonas litorais e para o estrangeiro, muitos campos agrícolas e florestas deixaram de ser periodicamente cortados. Esta situação levou a um aumento muito significativo da densidade do coberto vegetal arbustivo, o que impede os raios solares de atingirem o solo. Assim, muitas espécies deixam de ter locais adequados para a termorregulação, pelo que desaparecem. O crescimento desmesurado da vegetação, seja por abandono de práticas agrícolas ou como consequência de incêndios florestais, tem sido apontado como um factor de ameaça para algumas populações de Víbora-cornuda na Catalunha, ou mesmo como o principal factor responsável pela extinção de várias populações de Vipera aspis nas montanhas do Jura (Suíça).

As alterações ou a destruição dos habitat naturais dos répteis são particularmente nefastas sempre que estes possuam populações pequenas e/ou isoladas, ou com uma área de distribuição restringida. Determinadas espécies de répteis possuem no Norte de Portugal o seu limite setentrional de distribuição e só aparecem em pequenas populações mais ou menos disjuntas do resto dos indivíduos da sua espécie. Frequentemente, estas populações encontram-se restringidas a habitat muito específicos. É o caso da Osga-comum e da Cobra-cega, limitadas às encostas expostas a sul, com características climáticas e florísticas de feição mediterrânea. O seu espectro geográfico limitado e a sua dependência de habitat particulares torna-as muito sensíveis a qualquer alteração dos seus ambientes naturais. Estas duas espécies, assim como o Cágado-de-carapaça-estriada e o Fura-pastos-ibérico, foram apenas detectadas em escassas áreas, pelo que, provavelmente, possuem populações pequenas e isoladas. Deste modo, qualquer factor humano ou natural, que eventualmente as perturbe, constitui uma ameaça à sua persistência.

2. Introdução de Espécies Exóticas

Em Portugal existem poucos dados sobre a ocorrência de espécies de répteis exóticas introduzidas, mas tanto na Galiza, como em Portugal, na bacia hidrográfica do rio Lima está descrita a introdução do Vison-americano (Mustela vison), que é um mamífero predador de répteis ripícolas.


3. Atropelamentos nas Estradas

Os répteis são um grupo de vertebrados fortemente sujeitos a atropelamentos nas estradas, visto utilizarem-nas como passagem e ajuda na termorregulação. Muitas espécies, durante a época de reprodução, percorrem extensas áreas, estando assim mais susceptíveis à mortalidade por atropelamento. Tendo em conta que a maioria dos exemplares que são atropelados são indivíduos que se iam reproduzir, então torna-se ainda mais difícil fazer uma avaliação precisa do verdadeiro impacto dos atropelamentos. Numa quantificação dos répteis atropelados na área de estudo, verificou-se que, de um total de 74 indivíduos encontrados atropelados, as espécies que mais frequentemente sofrem este tipo de acidentes são o Licranço, a Víbora-cornuda (Fig. 5) e a Cobra-de-água-viperina, e que o pico de maior mortalidade ocorre no mês de Junho, o que corresponde, de uma forma geral, à época de reprodução destas espécies.


Figura 5 – Lagarto-de-água (A) e Víbora-cornuda (B) atropelados na Mata de Albergaria (PNPG).


4. Contaminação dos Habitat por Produtos Fitossanitários e Fertilizantes Agrícolas

Os répteis são animais bastantes susceptíveis à poluição química e sabe-se que certas espécies podem acumular organofosforados utilizados na agricultura moderna, pois como muitas espécies são insectívoras, elas acumulam os pesticidas utilizados no combate aos insectos de que se alimentam. Embora não existam estudos para Portugal, e o PNPG seja uma região relativamente pouco agricultada e com um tipo de agricultura mais tradicional, é de esperar que em certos vales mais humanizados, e.g. vale do rio Lima, possa ocorrer alguma poluição de origem agrícola. Não são raros os casos em que se encontram embalagens usadas de organofosforados em terrenos agrícolas ou mesmo em linhas de água.

5. Captura de Exemplares para Comércio Ilegal e Coleccionismo

O comércio ilegal de répteis, a nível mundial, possui actualmente dois grandes objectivos: o comércio de serpentes e tartarugas para a indústria da moda e o comércio para serem usados como animais de estimação. No PNPG o maior problema de comércio ilegal de répteis prende-se com a comercialização das víboras, particularmente das cabeças de Víbora-cornuda.

6. Perseguição por aversão ou por serem consideradas espécies daninhas

Os répteis, com algumas excepções, são perseguidos pelo Homem desde há milhares de anos. Esta perseguição resulta de terem tido, desde sempre, uma má reputação, sendo considerados, por um grande número de pessoas, animais repugnantes e daninhos. No PNPG não existem dados concretos sobre a morte de répteis directamente provocada pelo Homem (salvo para comercialização no caso das víboras), mas é do conhecimento geral que algumas espécies são especialmente mortas, casos do Licranço, do Sardão e de uma forma geral todas as Serpentes.

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