Ecologia e Conservação da Andorinha-do-mar-anã nas Salinas de Castro Marim e Cerro do Bufo

Teresa Catry
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Uma vez identificados os requisitos ecológicos, bem como os principais factores de ameaça da Andorinha-do-mar-anã nas salinas de Castro Marim e Cerro do Bufo, é possível enumerar algumas acções prioritárias de gestão para a conservação desta espécie. Assim, a manutenção das colónias de Andorinha-do-mar-anã nestas salinas parece depender, fundamentalmente, de três factores:

1. Manutenção e gestão das salinas. Actualmente é opinião unânime que a forma mais eficaz de conservar as salinas é mantê-las em actividade (Britton and Johnson 1987, Neves e Rufino 1994, Velasquez 1992, Pullan 1998, Dias 1999). O abandono das salinas, e a consequente degradação do habitat, é prejudicial a um grande número de espécies de aves, nomeadamente à Andorinha-do-mar-anã, para a qual as salinas constituem locais de primordial importância como zonas de nidificação (Neves e Rufino 1992). No entanto, a possibilidade de colocar todas as salinas a produzir sal é pouco realista do ponto de vista financeiro. Deste modo, foi sugerido que se adoptem também medidas de gestão para as salinas abandonadas, nomeadamente através da gestão de níveis de água e da manutenção de comportas e esteiros (Neves e Rufino 1994).

2. Calendarização do ciclo anual da exploração salineira. A intensa perturbação provocada pela actividade salineira nas áreas de nidificação da Andorinha-do-mar-anã pode trazer consequências drásticas para o sucesso reprodutor desta espécie, se decorrer em simultâneo com o período de maior actividade reprodutora. Assim, a fixação de uma calendarização, que determine que o início da actividade salineira não se deverá prolongar para além do mês de Abril e que a preparação para a extracção do sal só deverá ter início no mês de Julho, revela-se de extrema importância para a conservação desta espécie.

3. Implementação de medidas de controlo da predação. A predação constitui, actualmente, o principal factor responsável pelo insucesso reprodutor da Andorinha-do-mar-anã nas salinas de Castro Marim e do Cerro do Bufo. Assim, e uma vez que se conhecem os principais predadores, parece prioritária a implementação de medidas de controlo apropriadas. Em Portugal, a experiência neste tipo de acções é extremamente reduzida, de modo que qualquer conjunto de medidas deverá ser bem avaliado e ter como base a experiência internacional. De um modo geral, o controlo da predação terrestre (maioritariamente efectuada por cães e raposas) pode ser realizado através da edificação de vedações, electrificadas ou não, em torno das colónias ou com vigilância nocturna do local (e.g. Haddon and Knight 1983, Rimmer and Deblinger 1992). O controlo da predação aérea, nomeadamente no que respeita à predação de ovos, está menos desenvolvido e parece ser mais problemático. O controlo letal de predadores e a indução, nestes indivíduos, de um comportamento de aversão face ao alimento, recorrendo ao uso de ovos tratados com compostos químicos repelentes, parecem constituir as poucas soluções disponíveis. No entanto, ambas apresentam defeitos e nem sempre têm resultados positivos, podendo não constituir soluções adequadas (Haddon and Knight 1983, Nicolaus et al. 1983, Ó Briain and Farrely 1990, Avery et al. 1995, Catry 2000).



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