Floresta, Ciclo do Carbono e Alterações Climáticas

Alexandra Cristina Pires Correia
Imprimir
Texto A A A


1.4. Stocks de Carbono na terra - armazenamento no curto e longo prazo

O oceano, a vegetação e o solo são importantes reservatórios que trocam activamente Carbono com a atmosfera. A concentração de Carbono na atmosfera é de 775 Gt. O oceano contém 50 vezes mais carbono do que a atmosfera e a vegetação e o solo cerca de 3 vezes e meia mais.


A dinâmica do ciclo de Carbono é muito variável, quer no espaço quer no tempo. As emissões de carbono são influenciados por factores de origem humana e natural. Por exemplo, uma erupção vulcânica de grandes dimensões pode fazer aumentar temporariamente a concentração de Carbono na atmosfera. É muito importante ter presente que apesar de alguns sistemas naturais constituírem grandes reservatórios de Carbono (como o oceano), a dinâmica do seu ciclo é sobretudo controlada pelos sistemas que têm capacidade de o trocar activamente com a atmosfera, como é o caso da vegetação e do solo. Já o oceano tem baixa capacidade de sumidouro porque a molécula de CO2 não se dissolve facilmente na água e grande parte dos oceanos tem uma baixa produtividade de matéria orgânica (isto é, as plantas que aí vivem, por exemplo algas, são poucas e com a fotossíntese limitada pela falta de nutrientes e pela fraca penetração da luz). Por outro lado, a fotossíntese que ocorre nas plantas terrestres é responsável pela retenção de carbono atmosférico no material vegetal e, eventualmente, na matéria orgânica no solo. Assim, é claro que ecossistemas com grande biomassa e com o solo pouco perturbado, como as florestas, retêm o carbono numa escala temporal muito maior, na ordem de décadas e séculos.

Esta capacidade de retenção e armazenamento do Carbono pelas florestas a longo prazo, representa um dos pontos importantes no debate no ciclo global do Carbono e nos impactes das alterações climáticas, de tal forma que está previsto no Protocolo de Quioto. O artigo 3.3 e 3.4 do Protocolo de Quioto (UNFCCC) considera que as fontes e os sumidouros de Carbono (nomeadamente as florestas) podem ser contabilizadas para cumprir os objectivos a que os países signatários se comprometem no período de 2008-2012.


1.5. Importância do problema - o sector agro-florestal (Fontes e Sumidouros)

Como vimos, para além das emissões de CO2 pela indústria e pelo sistema de transportes, as alterações de uso do solo, nomeadamente a transformação de florestas em zonas agrícolas, constituem uma fonte líquida de CO2 para as atmosfera a nível global. Estima-se que cerca de 20% da floresta desapareceu durante os últimos 140 anos em resultado da conversão de floresta em agricultura, para satisfazer as necessidades alimentares de uma população em crescimento (na ordem do bilião por década). A exploração intensiva de culturas agrícolas, que têm uma baixa taxa de retenção de Carbono, a que se junta o crescente uso de fertilizantes, são também responsáveis pelo aumento dos gases de estufa CH4 e NO2 na atmosfera. A floresta, em contrapartida, pode acumular, a longo prazo, grandes quantidades de Carbono, quer no material vegetal, quer na matéria orgânica do solo. As florestas são assim, em larga medida, o reservatório de Carbono mais importante da biosfera em termos globais. Uma redução global da área destes ecossistemas naturais terá impactes negativos sobre a capacidade de sumidouro da biosfera.


2. Algumas questões pertinentes: Incertezas do futuro.

O aumento das emissões de gases de estufa e respectivas consequências sobre as alterações globais do clima são questões recentes que preocupam a sociedade e a comunidade científica. Predominam incertezas associadas à modelação do sistema climático, na definição de padrões de alteração no espaço e no tempo. Há poucas dúvidas quanto à ocorrência de alterações climáticas. Os modelos climáticos que existem actualmente só conseguem prever padrões de alteração à escala continental. As consequências práticas do aquecimento global para um país ou região em particular ainda permanecem uma incógnita.

Comentários

Newsletter