Alterações na Paisagem de uma Região do Minho no Período 1958-1995: Implicações para a Ocorrência de Fogos Florestais

Francisco Moreira, Centro de Ecologia Aplicada Prof. Baeta Neves-ISA
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Dados sobre a ocorrência de fogos florestais

Estes dados foram cedidos pela Direcção-Geral de Florestas (DGF) para as freguesias incluídas na área de estudo, para o período 1980-1996. Para cada um dos anos, o número de ocorrências e a área total ardida foram anotadas.

Modelos de susceptibilidade da paisagem aos incêndios

Os supramencionados modelos de combustíveis foram construídos de forma extremamente simples. Cada uso do solo foi classificado numa escala crescente de susceptibilidade ao fogo, por exemplo, 1 para áreas agrícolas e urbanas, 2 para matos baixos, 3 para matos altos, 4 para florestas de folhosas, 5 para florestas mistas e 6 para florestas de coníferas. Em seguida, para cada ano, multiplicou-se a área total de cada uso do solo (em hectares) pela sua susceptibilidade e somou-se esse valor para todos os usos do solo. Quanto maior o valor obtido, maior a susceptibilidade geral da paisagem ao fogo. Este procedimento foi repetido para modelos cada vez mais simples (por exemplo, considerar que a susceptibilidade aos incêndios era igual para todos os tipos de florestas) até ao mais simples de todo, em que se assumia o valor 0 para zonas agrícolas e urbanas (susceptibilidade mínima ao fogo) e 1 para os restantes usos do solo.


Medição da susceptibilidade real aos incêndios: o fogo como “um animal”

A criação dos modelos teóricos é apenas uma aproximação ao mundo real. A utilização de dados reais sobre a configuração e localização de áreas ardidas permite-nos medir efectivamente de que modo o fogo “utilizou a paisagem”. Assim, a partir dos usos do solo que estavam “disponíveis” para o fogo e comparando com o que realmente ardeu, foi possível estimar um índice de selecção para cada tipo de uso do solo, como se os incêndios fossem animais que gostam mais de um tipo de alimento do que de outro. Quando este índice é igual a 1, o fogo utilizou esse tipo de uso do solo de forma aleatória. Se o índice é inferior a 1, podemos dizer que o fogo “evitou” esse uso do solo. Quando o índice é superior a 1, então esse uso é particularmente seleccionado pelo fogo, o que significa que existe alta probabilidade de arder.

Para estimar estes índices de selecção, foram utilizadas as áreas ardidas por 13 incêndios com dimensões muito variáveis (1 a 410 ha), que ocorreram durante o período 1995-1999. Finalmente, os índices obtidos para cada uso do solo foram multiplicados pela área desse uso para cada ano, obtendo-se assim um valor de susceptibilidade ao fogo semelhante ao da secção anterior, com a diferença de que era baseado em dados reais (e não teóricos).


Resultados e Discussão

Alterações na paisagem

A área agrícola registou um declínio de 29% em área durante o período 1958-1995. Este declínio ocorreu primeiro nas zonas agrícolas mais isoladas e de menores dimensões. A área ocupada por matos baixos registou a maior diminuição (48%). Em contrapartida, a área de matos altos aumentou 96%, tal como as florestas mistas (84.5%) e de folhosas (390%!). As florestas de coníferas registaram maior variação ao longo do tempo, apesar de a tendência ter sido também para aumento. Durante o intervalo de tempo entre cada uma das fotografias aéreas, as principais direcções de alteração no uso do solo foram as seguintes:

- No período 1958-1968, a transformação de áreas agrícolas em matos e florestas (principalmente de folhosas), bem como a substituição de matos baixos por matos altos e floresta;

- No período 1968-1983, uma continuação da transformação de áreas agrícolas em matos altos, bem como a transformação de florestas de coníferas em florestas mistas;

- No período 1983-1995, a transformação de matos altos em matos baixos e a transição de matos baixos para florestas de coníferas.


Modelos de susceptibilidade da paisagem aos incêndios

O número de fogos florestais nas freguesias da área de estudo triplicou durante o período 1980-1996, apesar da área total ardida ter variado substancialmente em cada ano. A maioria das áreas ardidas eram matos e pinhais.

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