De novo no rasto do Lince-ibérico!

Profª Margarida Santos Reis, Centro de Biologia Ambiental da Fac. Ciências de Lisboa
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É neste contexto que vem agora a lume este novo dado de que a presença da espécie em território nacional está confirmada precisamente através da identificação molecular de um excremento. Uma equipa de biólogos do Centro de Biologia Ambiental desde há quatro anos que procura evidências da ocorrência da espécie na área de implantação do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva. O projecto, que não se centra apenas no lince mas igualmente em outras espécies de carnívoros ameaçados, tem sido financiado pela Empresa de Desenvolvimento e Infra-Estruturas do Alqueva, S.A. (EDIA, S.A.), e desenvolve-se na área de regolfo (25000ha) da barragem de Alqueva e numa vasta área envolvente (110000ha), distribuindo-se por 15 concelhos do leste alentejano. Esta descoberta não ocorreu na área de regolfo da barragem, mas na área envolvente.

Trata-se de um projecto de monitorização de mamíferos carnívoros no âmbito do Programa de Minimização para o Património Natural e propôs-se acompanhar as diferentes fases de desenvolvimento do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva – pré-desmatação, desmatação, enchimento e pós-enchimento – e gerar propostas de minimização de impactes e de gestão ambiental tendo por base a avaliação da situação populacional das diferentes espécies alvo (lince, gato-bravo Felis silvestris, toirão Mustela putorius e lontra Lutra lutra).

Os métodos utilizados para tentar constatar a eventual presença de linces na área de estudo foram a realização de inquéritos orais para localizar avistamentos, a identificação de áreas mais favoráveis em termos de habitat e presas, e a prospecção intensiva do terreno para identificação de indícios de presença, sendo recolhidos para análise molecular os todos os excrementos cujas dimensões e morfologia sugiram que possam ser de indivíduos desta espécie. Dos seis excrementos enviados recentemente para análise molecular no laboratório da Estação Biológica de Doñana (CSIC, Sevilha-Espanha), um revelou-se positivo. Segundo os técnicos do referido laboratório, que se têm responsabilizado pelas análises de ADN de excrementos recolhidos em Espanha e Portugal, incluindo os citados no censo-diagnóstico, a análise foi repetida várias vezes e o resultado foi sempre idêntico – trata-se de um excremento de lince.

 


Com o presente achado, os esforços de campo desenvolvidos pelos biólogos Joaquim Pedro Ferreira e Iris Pereira numa área de prospecção tão vasta, foram recompensados e é mesmo caso para dizer que foi possível encontrar a agulha que era procurada no palheiro.

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