De novo no rasto do Lince-ibérico!

Profª Margarida Santos Reis, Centro de Biologia Ambiental da Fac. Ciências de Lisboa
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Mais recentemente, e na sequência dos avanços tecnológicos no domínio da biologia molecular que permitem a identificação da espécie a partir de ADN extraído de amostras fecais, o Instituto de Conservação da Natureza (ICN) apostou nesta nova metodologia e intensificou a recolha de potenciais excrementos no terreno e a respectiva análise (Pires e Fernandes 2001). Os resultados não foram animadores e suscitaram a necessidade de efectuar uma nova avaliação da situação populacional do lince.

Em 2002, e numa acção concertada com a Direção Geral de Conservação da Natureza em Espanha (Guzmán et al. 2002), o Instituto de Conservação da Natureza dá então início a um novo censo-diagnóstico à escala nacional mas em que se considera apenas como métodos rigorosos a análise positiva de excrementos mediante técnicas moleculares e registos fotográficos (“armadilhagem fotográfica”) não sendo dada qualquer relevância a avistamentos de animais vivos ou mortos e baseados numa descrição rigorosa da espécie. Os resultados preliminares deste censo (Sarmento 2002), que envolveu uma equipa de cerca de meia centena de técnicos e vigilantes do ICN e um esforço de 98 954 horas de amostragem nas áreas previamente identificadas como áreas de lince (Ceia et al. 1998), foram apresentados no decurso do Seminário Internacional sobre o Lince Ibérico, que decorreu em Andújar (Jaén, Espanha) entre 29 e 31 de Outubro, e a conclusão foi de que os “métodos utilizados não detectaram um único lince em Portugal” sendo “altamente improvável que ainda existam indivíduos errantes” (Sá 2003).. Este facto, conduziu à morte anunciada do lince sendo mesmo noticiado que perdemos o rasto do lince Ibérico.



Afirmações como estas levam a que seja assumida, prematura e precipitadamente, a extinção da espécie em território nacional, tanto mais que os métodos empregues para detectar uma espécie em tão baixa densidade e de comportamento tão discreto são condição suficiente para provar a sua presença mas não o contrário. Ignorar outros indícios de presença e observações de animais vivos e mortos por terceiros é um erro com consequências gravosas na estratégia de conservação da espécie.

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