ETAPs e Piscinas Biológicas: o mesmo conceito mas aplicações tão diferentes

Maria João Carvalho
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A utilização de plantas aquáticas em estações de tratamento de águas residuais e piscinas privadas é técnica e ecologicamente muito interessante. Estas plantas filtram, assimilam e depuram a água dos poluentes com que está carregada.

…É por estes motivos que se justifica a salvaguarda deste recurso como direito fundamental do Homem. O mundo simbólico e real da água deve ser pautado pelo saber objectivo, científico e instrumental, mas também por algo de sagrado, onde se mantenha a união que a água desde sempre representou entre o corpo e a natureza, entre as gerações, entre o exterior e o interior, entre o visível e o invisível…

In “OKEÁGUA – Piscinas Eco-Sustentáveis”, Maria João Melo

Desde que o mundo é mundo que o Homem tenta regressar às origens e à água de onde saiu há alguns milhões de anos. São muito poucas as pessoas que não têm um enorme prazer no contacto com a água, seja ela a que está na banheira ou as vagas frias e agitadas do nosso Oceano Atlântico. Numa escala intermédia estão as piscinas, que qualquer vivente um pouco mais endinheirado almeja ter na sua propriedade. Podem ser exteriores ou interiores, de água aquecida ou à temperatura ambiente, doce ou salgada, podem até ter já incluídos alguns sistemas que simulam a agitação marinha que começam a surgir cada vez mais em parques aquáticos.

O que nem todos os viventes sabem é que as piscinas convencionais acarretam alguns problemas de índole ambiental, para a saúde das pessoas que as frequentam e de cariz económico, nomeadamente: águas com excesso de cloro e outros produtos químicos usados na desinfecção, que além de irritantes para a pele, olhos, cabelo e nariz, provocam desequilíbrios nos ecossistemas vizinhos e dificuldades acrescidas no tratamento dos efluentes; a depuração conseguida obriga mesmo assim à substituição total da água com uma certa periodicidade; o impacto visual é sempre artificial e desenquadrado da natureza; a construção é cara e a manutenção trabalhosa e cara; os assentamentos de terreno após a construção provocam muitas vezes problemas como rachas, fissuras, falta de impermeabilidade, azulejos descolados, roturas nas canalizações, etc.; prevê-se que num futuro próximo este tipo de construção seja onerado com impostos e taxas que o classificam como artigo de luxo e visam responsabilizar os cidadãos e a sua relação com a água.

Dado que o ser humano tende a resolver primeiro os problemas que o afectam em maior escala e com mais premência e, dado que o problema do tratamento de efluentes líquidos domésticos e industriais acarreta sérios problemas ambientais, surgiu recentemente o conceito de Fito-ETAR ou ETAP (Estação de Tratamento de Águas com Plantas), que é, como o próprio nome indica, uma ETAR, ou seja, uma Estação de Tratamento de Águas Residuais, onde esse tratamento, em vez de ser efectuado pelos métodos tradicionais, é feito utilizando plantas aquáticas, que pelas suas características, filtram, assimilam e depuram em geral a água, dos diversos poluentes com que está carregada, depois de esta ter passado por tanques de decantação para separação de sólidos que poderiam danificar o sistema.

 

As plantas desempenham um papel eficaz no tratamento das águas residuais, pelo facto destas disporem de uma capacidade de criar em torno das suas raízes e rizomas um meio rico em oxigénio, onde se geram condições de oxidação que estimulam a decomposição aeróbia da matéria orgânica e o crescimento das bactérias nitrificantes.

O tratamento de efluentes líquidos tendo como base os leitos de macrófitas constitui uma tecnologia fiável, robusta, de baixos custos energéticos, eficiente e estética, capaz de constituir uma alternativa aos sistemas convencionais no tratamento de efluentes. Esta tecnologia pode ser utilizada quer em efluentes domésticos, quer em outro tipo de efluentes como industriais, agro-pecuários e águas lixiviantes.

Tanto as ETAPs como as Piscinas Biológicas recriam de forma optimizada a estrutura e dinâmica funcional de uma zona húmida natural, ou seja, recriam sistemas lagunares.

O tratamento da água por sistemas de macrófitas é feito de diversas formas: por absorção de substâncias pelas plantas, pelo fornecimento de condições propícias ao desenvolvimento de microrganismos e, indirectamente, por interacção com partículas do solo que é o substrato das plantas.

- Captação de nutrientes e compostos químicos específicos – Além de elementos como o fósforo, o azoto ou o potássio, que constituem nutrientes para as plantas, outros elementos e compostos químicos são incorporados ou acumulados por algumas macrófitas, que são, por isso, utilizadas na depuração de efluentes de indústrias específicas.

- Libertação de oxigénio pelas raízes – A libertação de oxigénio pelas raízes regista-se nas plantas que possuem parte aérea e parte aquática, tais como as macrófitas emergentes, as fixas de folhas flutuantes e algumas flutuantes; estas plantas possuem aerênquima que permite o desenvolvimento de plantas em terrenos encharcados, sem sofrerem asfixia radicular. A libertação do oxigénio faz-se essencialmente através da ponta das raízes. As espécies com aerênquima possuem maiores concentrações internas de oxigénio e, consequentemente, um potencial maior para libertar uma maior quantidade desta molécula. O oxigénio libertado pelas raízes possibilita o desenvolvimento de microrganismos em aerobiose na rizosfera e promove a oxidação de substâncias químicas.

- Filtração e decantação – A trama formada pelas macrófitas, num sistema com águas paradas ou com fluxo lento, favorece a eliminação de sólidos em suspensão pelos processos de filtração e decantação.

- Suporte de microrganismos e de invertebrados – As macrófitas servem de suporte a uma infinidade de organismos que eliminam microrganismos patogênicos e que, pelos processos de fermentação e de respiração, degradam a matéria orgânica.

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