Por terras de Pitões à descoberta da Serra do Gerês

Manuel Nunes (texto) e Jorge Nunes (fotografia)
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Aos poucos, quase imperceptivelmente, o carvalhal adensa-se. Lá longe, distinguia-se já um muralhar contínuo. Lentamente, o murmúrio vai tomando forma, sobe de intensidade e, subitamente, após uma última curva, atinge o clímax ensurdecedor quando nos deparamos com a queda de água de Campesinho. Lançando-se das alturas, a água explode em torrentes sucessivas que se desfazem em milhares de pequenas gotículas que polvilham o bosque, como se de orvalho se tratasse. Uma vez mais, a paragem é curta. Não sem custo, “escala-se” o Penedo Grande e alcançam-se os lameiros da cumeada aplanada do cabeço. Quando o sol começou a aproximar-se do horizonte e a penumbra a diluir as curvas dos vales, chegamos finalmente às ruínas do Mosteiro, plantado na margem direita da ribeira de Campesinho. De pé, apenas a velha e austera igreja românica. Tudo o resto, construído em períodos sucessivos que medeiam entre o séc. XI e XVI, - o espaço conventual propriamente dito com o claustro, a cozinha e o forno ainda visíveis - mais não é que uma pálida recordação da beleza que em séculos idos parece ter engalanado este abrigo dos peregrinos de Santiago.

Hoje, as ruínas do Mosteiro apenas abrigam pequenos animais e um desejo antigo das gentes da terra de verem as promessas de recuperação e reconstrução do seu templo cumpridas finalmente. Quanto a nós, peregrinos de uma outra causa, comungados da paz deste eterno isolamento da terra de Júnias, partimos, calçada acima, com destino à aldeia de Pitões e a um merecido repouso recordando as palavras de Frei Luís de Sousa que na sua Vida de Arcebispo de 1619 apregoavam com ironia: (…) estas terras que chamam de Barroso têm um sítio tão intratável de serras e penedias, quase sempre cobertas de neve, de picos que se vão às nuvens, de brenhas tenebrosas, de vales profundíssimos e passos perigosos que mais parecem morada de feras que de homens capazes de razão e juízo (...).

 

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