Serras de Valongo - um património natural a descobrir e conservar

Manuel Nunes (texto) e Jorge Nunes (fotografia)
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Para além dos fojos, destaca-se de entre o conjunto de habitats prioritários, incluídos no Anexo I da Directiva Habitats, a área do vale do rio Ferreira, na zona de Couce. Com efeito, trata-se de um local particularmente relevante, quer em termos de património botânico, salientando-se, de entre as comunidades permanentes, as formações palustres, onde vegetam várias espécies de plantas carnívoras, as formações ripícolas, como os choupais (Populus alba), os salgueirais (Salix alba), e os freixiais (Fraxinus angustifolia subsp. angustifolia), e os bosquetes mistos de carvalho-roble (Quercus robur), sobreiro (Quercus suber) e pinheiro-bravo (Pinus pinaster), particularmente exuberantes nas bordaduras das áreas de cultivo, onde ainda é possível encontrar pequenos núcleos de azevinho (Ilex aquifolium), quer em termos de ictiofauna, já que o rio Ferreira alberga um conjunto valioso de espécies piscícolas, entre as quais alguns peixes listados no Anexo II da Directiva Habitats, como a boga (Chondrostoma polylepis) e o bordalo (Rutilus alburnoides), endemismos ibéricos, ou o ruivaco (Rutilus macrolepidotus), um endemismo português.

Plantas carnívoras de Valongo

Das várias espécies de plantas carnívoras que vegetam na área deste maciço montanhoso, a maioria é característica das zonas húmidas ou pantanosas, como acontece com as orvalhinhas (Drosera rotundifolia e Drosera intermédia) e a pinguícola-lusitânica (Pinguicula lusitanica), espécie que costuma surgir associada às orvalhinhas, uma vez que possui as mesmas exigências ecológicas. Porém, nas charnecas secas e xistosas sobranceiras ao vale de Couce, é possível encontrar ainda uma outra espécie de planta-carnívora, esta bem mais rara e altamente ameaçada: o pinheiro-baboso (Drosophyllum lusitanicum). Trata-se de um endemismo ibero-marroquino de distribuição altamente localizada em Portugal. Possui folhas verdes alongadas cobertas por pêlos glandulosos vermelhos, recobertos por mucilagem. Na época da floração ostenta flores de pétalas grandes e amarelas que exalam um odor característico a mel, muito eficaz na atracção de insectos. Contudo, apesar de constituir um dos ex-libris ambientais deste maciço montanhoso, tal parece não obstar à ameaça de extinção que sobre ela paira. De facto, alguns dos preciosos e reduzidos núcleos desta espécie conhecidos para as “serras de Valongo” têm sido de tal modo afectados – actividade florestal intensa e desregrada, com recurso, sobretudo, à monocultura do eucalipto (Eucalyptus sp.); sucessivos fogos florestais; deposição de entulho; perturbação humana (actividades todo-o-terreno, etc.); pressão urbanística – que se crê estarem actualmente em vias de desaparecer nesta região.

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