Serras de Valongo - um património natural a descobrir e conservar

Manuel Nunes (texto) e Jorge Nunes (fotografia)
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Localizadas a poucos quilómetros da cidade do Porto e repartidas entre os concelhos de Valongo, Gondomar e Paredes, as chamadas serras de Valongo ocultam nas covas mais profundas e nas cristas mais desérticas plantas e animais raros e magníficos.

Às portas da cidade de Valongo e do grande Porto, entre cerros e vales alcantilados, erguem-se as “serra de Valongo”, lugar ermo de aldeias esquecidas, onde a natureza logrou contornar a acção destruidora do Homem, ocultando nas covas mais profundas ou nas cristas mais desérticas, animais magníficos e plantas raras e únicas.

Localizadas a pouco mais de 6 km da cidade do Porto e repartidas entre os concelhos de Valongo, Gondomar e Paredes, as denominadas “serras de Valongo”, constituídas por uma série de elevações orientadas na direcção NW-SE e formadas essencialmente por cristas de rochas quartzíticas que correspondem a uma dobra anticlinal, tombada para ocidente – Santa Justa (367 m), Pias (385 m) e Castiçal (324 m) – dão corpo a um maciço montanhoso de grande valor natural e paisagístico. Este é caracterizado pela presença do rio Ferreira (o maior curso de água da região incluído na Bacia Hidrográfica do rio Sousa, que na área das “serras de Valongo” corre num vale encaixado onde se evidenciam algumas gargantas apertadas, como no Alto do Castelo e nas Fragas do Diabo) e por um complexo sistema de fojos (galerias subterrâneas que descem a dezenas de metros de profundidade, correspondentes a filões de quartzo, desmontados por trabalhos de mineração, durante os quais se extraíram grandes quantidades de ouro, nomeadamente durante o período da ocupação romana), minas, pequenas nascentes e linhas de água, que criam condições particularmente favoráveis para a herpetofauna associada a ambientes húmidos, destacando-se a presença de um interessante conjunto de espécies endémicas da Península Ibérica: o lagarto-de-água (Lacerta schreiberi), o tritão-de-ventre-laranja (Triturus boscai), a rã-ibérica (Rana ibérica), e a salamandra-lusitânica (Chioglossa lusitanica), um curioso anfíbio exclusivo do noroeste ibérico, considerada uma espécie “Insuficientemente Conhecida” pelo Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. Igualmente relevantes no contexto dos vertebrados identificados para este espaço montanhoso, apesar da progressiva degradação dos seus habitats naturais a partir da década de 1970, são as comunidades de aves e mamíferos. E se em termos de avifauna a listagem ainda é relativamente extensa e a abundância proporcional, salientando-se a presença de algumas espécies de aves listadas no Anexo I da Directiva Aves (79/409/CEE), como o guarda-rios (Alcedo atthis), a cotovia-pequena (Lullua arbórea) e a felosa-do-mato (Sylvia undata), e ainda de algumas aves de presa (nocturnas e diurnas), como a águia-de-asa-redonda (Buteo buteo), o peneireiro (Falco tinnunculus), a coruja-das-torres (Tyto alba), a coruja-do-mato (Strix aluco) e o mocho-galego (Athene noctua). No que diz respeito à mamofauna, verifica-se um acentuado declínio em algumas populações, designadamente entre determinadas espécies de mustelídeos, como a lontra (Lutra lutra) ou o toirão (Mustela putorius), provavelmente devido ao aumento exponencial de factores de perturbação causados por acção antrópica nas áreas, até aqui, mais isoladas das “serras de Valongo”.

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