O outro lado da Praia

Jorge Nunes (texto e fotografia)
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Rochas
Nas praias rochosas, são comuns os caranguejos, as estrelas-do-mar, os ouriços-do-mar, os camarões e vários moluscos (mexilhões, lapas, burriés, caramujos, etc.). Durante a maré-baixa, os moluscos refugiam-se nas suas conchas, que fecham hermeticamente (mexilhões) ou fazem aderir às rochas (lapas), retendo a água essencial ao funcionamento das suas brânquias. Quanto aos crustáceos, como os caranguejos e as sapateiras, refugiam-se nas fendas húmidas das rochas, que partilham geralmente com pequenos polvos. Já os peixes, os camarões, as anémonas, as estrelas-do-mar e os ouriços-do-mar, devido à sua fragilidade, escolhem as poças de água, onde mantêm a sua actividade habitual. Apesar das difíceis condições de vida nas praias rochosas (devido ao rebentamento constante das ondas), quase todas as rochas estão cobertas de inúmeros organismos.

Areal
As praias arenosas, embora com menor variedade de seres vivos, devido ao facto do substrato ser instável por acção do movimento da água sobre a areia, apresentam vários aspectos interessantes. É aí o local ideal para procurar conchas trazidas pela ondulação e para investigar os tufos de algas, arrastados pelas correntes, que servem de abrigo a pequenos burriés, aos casa-alugada (minúsculos caranguejos que se refugiam no interior de pequenos búzios) e às curiosas pulgas-do-mar.

Dunas
As zonas dunares constituem óptimos locais para a observação de espécies botânicas características. No entanto, deve evitar-se pisar a vegetação, pois a existência das dunas depende dessa cobertura vegetal. Sem as plantas, as dunas seriam sujeitas ao efeito dos agentes erosivos, que pouco a pouco as iam aplanando, deixando de fornecer aos terrenos interiores a protecção que necessitam. Os cordões dunares constituem por isso zonas de grande fragilidade, onde se pode observar o Estorno, o Cardo-marítimo, o Narciso-das-areias, a Soldanela, o Malmequer-das-praias, os Cordeirinhos-da-praia, a Luzerna-das-praias, etc..

O MUNDO SUBAQUÁTICO
Se já está farto de perscrutar cada canto e recanto da praia em busca de tudo o que mexa, se já conhece o areal como a palma da sua mão, então não desanime, pois isso não significa o fim das aventuras na praia. Está na altura de colocar a máscara e as barbatanas e deixar-se submergir ao sabor da ondulação. Vai ficar deslumbrado com o mundo que o aguarda debaixo de água.

Não espere encontrar galeões carregados de lingotes de ouro, mas se for paciente e perseverante, o mergulho em apneia (sustendo a respiração) possibilitará a observação dos fundos repletos de vida, onde surgem os cardumes de sargos, as estrelas-do-mar a atacarem os bancos de mexilhões e a dança das marachombas e dos cabozes, defendendo os seus territórios.

Se gostou da experiência e pensa repetir a façanha, talvez seja conveniente munir-se de um tubo respirador, pois vai permitir-lhe mergulhar de uma forma mais cómoda. Vá lá, não tenha medo, aventure-se!

VEJA ONDE PÕE OS PÉS!
Esta ideia de calcorrear as praias à procura de bicharada acarreta o seu perigo, pois nas deambulações por entre as rochas, nos pequenos lagos da baixa-mar ou nos mergulhos em apneia, pode expor-se a mais riscos do que o banhista que se contenta com banhos de sol e esporádicas visitas à água. Mas se lhe serve de consolo, saiba que os riscos são bem maiores se ficar a torrar ao sol!

De entre os peixes, merece especial atenção o Peixes-aranha, uma vez que as suas picadas são as mais frequentes e provocam dores intensas. Para aliviar a dor, pode recorrer-se ao calor, por imersão do membro afectado em água à temperatura máxima suportável ou pela aproximação do local da picada de um cigarro aceso. É recomendável o uso de analgésicos e de anti-sépticos.

Os crustáceos (caranguejos e afins) e polvos, podem também infligir mordeduras. As belas conchas do Conus ventricosus, existente na costa algarvia, escondem um molusco que, ao injectar o veneno, provoca dor violenta, edema, hemorragia e entorpecimento local, seguido de vómitos. Não existe tratamento específico, aconselhando-se o uso de analgésicos, desinfecção local e eventual aplicação de creme anti-inflamatório.

Os ouriços-do-mar, completamente revestidos de espinhos, criam algumas situações muito desagradáveis a quem os pisa inadvertidamente. São necessárias longas horas de pinça na mão para se retirarem todos os espinhos. A aplicação local de vinagre dissolve os espinhos, o que poderá tornar este tratamento menos moroso.

As anémonas, as alforrecas e as caravelas-portuguesas constituem autênticas fortalezas revestidas pelos nematocistos (aparelhos de injecção de veneno). As duas últimas provocam dor e edema locais e cãibras musculares. Nas várias situações descritas será conveniente o aconselhamento médico, pois cada pessoa apresenta reacções específicas às diferentes toxinas.

EM JEITO DE ALERTA
As praias não são só suas, são de todos! Por isso, convém que durante a sua visita tenha sempre em consideração que, depois de si, outros virão. Já para não falar dos vários seres vivos que aí vivem permanentemente. Assim, nunca é demais lembrar que deve evitar:

. Andar sobre as dunas, atravessá-las de veículos motorizados ou fazer campismo;

. Deitar lixo nas praias ou nas suas imediações;

. Puxar ou arrancar os animais que aderem firmemente às rochas;

. Colocar os animais aquáticos em baldes ou sacos com pouca água ou deixá-los muito tempo expostos ao sol;

. Levar para casa seres vivos sem ter as condições adequadas para a sua manutenção.

. Assim, sugerimos que na praia deixe apenas pegadas e leve consigo as imagens para mais tarde recordar.

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