O outro lado da Praia

Jorge Nunes (texto e fotografia)
Imprimir
Texto A A A

Estamos no Verão! Todos os caminhos vão dar à praia. Mas já pensou que uma ida à praia pode ter outros motivos de interesse para além do bronze e dos banhos de mar? A Naturlink deixa-lhe algumas sugestões.

Se já está farto de estar estendido à torreira do sol, se desta vez teve azar com os vizinhos de praia, se mais uma vez não há espaço para os miúdos fazerem esculturas de areia, se o jornal já não desperta a sua atenção ou a algazarra o impede de se dedicar à leitura, deixe-se levar pela curiosidade e parta à descoberta do outro lado da praia.

Não se trata de ir até locais exóticos, mas de conseguir olhar de uma forma diferente para a praia que julga conhecer tão bem.

UM SAFARI NA PRAIA
Em oitocentos quilómetros de costa portuguesa, em praias sossegadas ou nas mais movimentadas, não somos, ao contrário do que muitos pensariam, as únicas formas de vida. Ao nosso redor, quase indiferentes à nossa presença, um sem-número de animais e plantas lutam pela sua sobrevivência. Essas miríades de seres vivos passam geralmente despercebidas ao olhar do cidadão comum. Mas uma observação mais atenta permitirá descobrir curiosas formas de vida, onde a multiplicidade de cores e a diversidade de formas apelam à imaginação.

No litoral, principalmente durante a baixa-mar, muitos são os motivos de interesse para o naturalista amador. Mesmo os menos dados a estas coisas da natureza vão ficar atraídos pela diversidade de organismos que é possível encontrar numa pequena poça na maré baixa. Apesar da sua aparente simplicidade, estes seres vivos fascinam-nos com as suas formas e cores extravagantes. Um dos aspectos mais interessantes é o facto do seu pequeno mundo imitar na perfeição os grandes ecossistemas da Terra, sendo possível encontrar as relações entre os vários seres vivos e destes com o meio, tal e qual se tratasse de uma enorme floresta ou de um extenso oceano. Quais liliputianos, vivem nesses pequenos édens quase indiferentes à nossa presença. Para auxiliar a identificação da bicharada, alguma bem estranha fazendo lembrar seres pré-históricos ou saídos de um filme de ficção científica, será conveniente fazer-se acompanhar de um guia de campo (por exemplo, o “Guia de Fauna e Flora do Litoral de Portugal e Europa”, editado pelo FAPAS).

De acordo com o Prof. Luis Saldanha, no seu livro "Fauna Submarina Atlântica", os primeiros povoamentos marinhos, que se encontram logo a seguir ao domínio terrestre, sobre estratos rochosos e que formam a zona supralitoral, são caracterizados pela existência de um pequeno caracol (da espécie Melaraphe neritoides), que se encontra em grandes quantidades nas fissuras das rochas. Esta zona raramente é coberta pela água, excepto nas marés vivas. Segue-se a zona mediolitoral, que corresponde à zona das marés, onde a distribuição dos organismos se faz em função do hidrodinamismo, ou seja, é influenciado pelo constante movimento da água e dos seus efeitos (intercalando períodos de imersão e de emersão). Em substratos rochosos, são comuns os densos povoamentos de mexilhões, algas calcárias e bálanos, entre outros. É nesta zona que abundam as poças permanentes, repletas de água, geralmente forradas por algas calcárias e ouriços-do-mar. O andar infralitoral vai desde o limite inferior da baixa-mar até cerca de 24 metros de profundidade, sendo por isso apenas acessível aos mergulhadores. Trata-se de uma zona geralmente forrada por várias espécies de algas, nos litorais rochosos, e com uma enorme diversidade de animais marinhos que fazem as delícias dos praticantes de mergulho em apneia ou com escafandro autónomo. A zona circalitoral, abaixo dos 24 metros de profundidade, é apenas acessível com escafandro autónomo, sendo, por isso, um feudo exclusivo só de alguns.

Água
As poças de água que se formam com a descida da maré constituem verdadeiros paraísos visuais, onde as algas, as lapas, os mexilhões, as anémonas, os ouriços, as estrelas, os camarões e vários pequenos peixes, fazem as delícias dos mais curiosos. Embora pareçam insignificantes, os seres vivos que habitam a zona das marés são criaturas especiais, pois vivem num dos ecossistemas mais hostis da face da Terra, permanentemente fustigados pela força das ondas, a alternância das marés, o sol escaldante e as variações da salinidade.

Comentários

Newsletter