Serra da Aboboreira - o último bastião selvagem do distrito do Porto

Manuel Nunes (texto) e Jorge Nunes (fotografia)
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O Lobo-Ibérico na Serra da Aboboreira

Perseguido em Portugal quase até ao seu completo extermínio na década de 1980, o Lobo-ibérico, uma subespécie do lobo-cinzento, endémica da Península Ibérica, hoje classificada como uma espécie “Em Perigo”, encontra-se totalmente protegido por legislação nacional (Lei de Protecção do Lobo Ibérico; Lei nº 90/88 de 13 de Agosto e Decreto-Lei nº 139/90 de 27 de Abril) e internacional (Anexo II da Convenção de Berna; Anexo II e IV da Directiva Habitats). Actualmente, o lobo subsiste apenas nas serranias mais isoladas do norte e centro de Portugal, estimando-se que a população ronde os 300 animais, repartidos por dois núcleos distintos: um, mais numeroso e estável, localizado a norte do rio Douro, distribuído pelas regiões montanhosas mais remotas do noroeste e nordeste, e um outro, localizado a sul do rio Douro, bastante reduzido (20 a 30 animais), ocupando as áreas de montanha fronteiras ao vale do Douro. A situação do lobo na serra da Aboboreira é relativamente mal conhecida. A ausência de estudos sistemáticos (data de 2002 o início dos trabalhos de campo conjuntos ICN/Grupo Lobo para a concretização do censo nacional do lobo, trabalhos esses que se prolongaram até final de 2003) não permite ainda aquilatar da real situação da população lupina nesta área montanhosa. Porém, tendo em conta informações e dados recolhidos, quer durante o censo nacional, quer no âmbito de um projecto de investigação (Projecto LOBO) levado a cabo pelo Clube de Ambiente e Exploração da Natureza da Escola EB 2,3 de Vila Caiz (Amarante), ao longo do triénio 2001-2003, crê-se tratar-se de um núcleo lupino pouco numeroso e instável em termos reprodutivos (as últimas referências fidedignas que apontam a possibilidade de reprodução na alcateia da Aboboreira datam de 2001) e altamente ameaçado, uma vez que se trata de uma população marginal, localizada no extremo sul da área de distribuição da espécie a norte do rio Douro, separada pelo IP4 dos restantes núcleos lupinos do sistema montanhoso Marão/Alvão e, possivelmente, sem qualquer contacto com a remanescente população localizada a sul do Douro. A pressão humana, a escassez de presas naturais, a diminuição dos efectivos pecuários, a destruição do habitat, mas sobretudo a ausência de uma estratégia concertada de conservação do lobo para esta região, concorrem para esta situação crítica em que se encontram os últimos lobos do distrito do Porto.

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