Reserva Natural do Paúl do Boquilobo, uma zona húmida a cuidar no coração de Portugal

Nuno Curado
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A Reserva Natural do Paúl do Boquilobo situa-se nas margens do Rio Almonda, um afluente do Tejo, pertence à rede MAP de Reservas da Biosfera da UNESCO e está integrada na lista de Zona Húmidas de Importância Internacional da Convenção de Ramsar.

A Reserva Natural do Paúl do Boquilobo situa-se no centro de Portugal, nas imediações da Golegã (distrito de Santarém). Localizada numa curva do Rio Almonda, esta reserva consiste numa zona húmida natural de água doce, rodeada por pântanos e situada numa planície aluvial. O paúl é sulcado por numerosas valas, que formam uma intricada malha e regista uma elevada variação no nível da água ao longo do ano. Esta zona é inundada naturalmente no Inverno devido às cheias do Rio Tejo e seca parcialmente quando a água recua na Primavera, criando largas áreas para cultivo. O Paúl pode também actuar como uma zona tampão, contribuindo para uma protecção acrescida às zonas agrícolas adjacentes contra a erosão provocada pelas cheias de Inverno. Durante muitos anos esta zona húmida tem sido um importante baixio, retendo partículas aluviais levadas pelos rios Tejo e Almonda e criando assim uma área extremamente fértil que contribuiu em tempos para o desenvolvimento económico desta zona.

Flora

Na parte central da Reserva predominam os habitats naturais ou semi-naturais, distribuindo-se ao longo de cursos de água ou pelas várzeas inundáveis consoante o período de submersão. Ao longo das linhas de água formam-se filas de choupos (Populus sp.), freixos (Fraxinus sp.) e salgueiros (Salix sp.), que formam núcleos densos nas zonas mais inundáveis. As principais espécies arbóreas são Salix alba (salgueiro-branco), S. atrocinerea (salgueiro-preto), S. fragilis, S. rubens, S. salvifolia (borrazeiras), Populus nigra e Fraxinus angustifolius. Nestas zonas ribeirinhas também é possível encontrar exemplares de Crataegus monogyna (pilriteiro), Rubus ulmifolius (silva), Rosa sp. e Tamus communis (norça-preta ou uva-de-cão). Entre as plantas aquáticas dominam os caniçais e os bunhais, principalmente Phragmites australis australis e Scirpus lacustris lacustris. Também são comuns as comunidades herbáceas de gramichão Paspalum paspalodes e mal-casada Polygonum amphibium. Em alguns locais podem ser ainda encontradas em alguma abundância a espadana Sparganium erectum erctum, a Tabua Typha sp., e o lírio amarelo Iris pseudacorus.

Em zonas inundáveis associadas a actividades agrícolas, surgem pastagens húmidas ou formações dominadas por espécies infestantes e/ou ruderais. As principais infestantes que ocorrem no Paúl são o jacinto de água Eichornia crassipes, planta flutuante que forma densos tapetes à superficie da água, podendo cobrir áreas extensas, e a bardana Xanthium strumarium que coloniza os terrenos lodosos após inundação.

Outros habitats existentes no Paúl, nos terraços fluviais e nas zonas de transição para as zonas húmidas, são a mata mediterrânea (em formações quase vestigiais), com a presença de sobreiro Quercus suber, zambujeiro Olea europaea var. sylvestris, abrunheiro-bravo Prunus spinosa institoides, roselha Cistus crispus e murta Myrtus communis e o montado de sobro, com prados espontâneos e formações arbustivas sob coberto, de trovisco Daphne gnidium, carrasco Quercus coccifera, aroeira Pistacia lentiscus, murta, Lonicera sp., e gilbardeira Ruscus aculeatus. Ocorrem ainda o carvalho-português Quercus faginea e a azinheira Quercus ilex rotundifolia.

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